A moda indígena e sustentável do Amazonas está conquistando espaço e reconhecimento, unindo tradição, identidade cultural e consciência ambiental. Com criações que valorizam saberes ancestrais e materiais naturais da floresta, estilistas indígenas e coletivos locais estão revolucionando o mercado da moda, provando que é possível aliar beleza, exclusividade e sustentabilidade.

Ganhando as arelas dos locais, o estilista Sioduhi e o Ateliê Derequine produzem peças muitas feitas de fibras naturais, sementes e pigmentos extraídos da biodiversidade amazônica. Elas carregam não apenas a estética única dos povos originários, mas também uma forte mensagem de resistência e preservação ambiental.

O estilista Sioduhi, indígena do povo Piratapuya do Alto Rio Negro, criou a própria marca, que leva o nome dele.

Marca Sioduhi no desfile da Casa dos Criadores em 2024. – Foto: Reprodução/ Instagram @sioduhi/ Agência Fotosite.

Na última edição da Casa de Criadores, plataforma nacional dedicada à moda e à arte brasileira, a marca Sioduhi se tornou a primeira marca fundada e baseada no Norte do Brasil a integrar o evento. Além disso, as peças da coleção “Kahtiridá: Fio da Vida”, criadas por artesãs indígenas do Alto do Rio Negro, trouxeram um tingimento natural à base de casca de mandioca e materiais provenientes de seringueiras.

O Ateliê Derequine também ganha destaque na moda indígena e sustentável. Localizado Parque das Tribos, no Tarumã, zona Oeste, o ateliê formado por mulheres produz peças únicas e que ressaltam a história ancestral. Além de fomentar o empreendedorismo indígena e beneficiar as mais de 11 famílias que vivem no local.

Peças produzidas pelo Ateliê Derequine. – Foto: Reprodução/ Instagram @sioduhi/ Nathalie Brasil.

Ateliê Derequine

O Ateliê Derequine estimula o trabalho artesanal e sustentável de estilistas indígenas dos povos Witoto, Mura e Dessana. Em um espaço simples, mas com talentos e um design autêntico, as mulheres produzem as peças únicas e autorais. O projeto coordenado por Vanda Witoto, líder indígena, traduz a trajetória de resistência e empreendedorismo.

“Sustentável, de valorização da matéria-prima como sementes, através do tucum também que usamos em nossas peças, assim como geramos impacto direto na vida das mulheres indígenas, através da geração de renda que a nossa marca tem gerado, impactando a vida direta de mais de 11 famílias aqui no Parque das Tribos, que é esse bairro indígena”.

Vanda Witoto, ativista, líder indígena e educadora.

No domingo (23), o Ateliê Derequine participou da 3ª edição do Origens Moda Amazônica. Evento que reúne marcas em um desfile que valoriza a moda indígena e sustentável, fortalecendo a identidade amazônica no cenário fashion, mas com consciência.

“A marca Derequine participa pela segunda vez no evento, contando a história das mulheres Witoto, que estão à frente da marca. É uma oportunidade de fortalecer a economia Amazônica, a bioeconomia valorizando essa identidade tão potente que a nossa região nos proporciona”.

Vanda Witoto.

O evento gratuito, que reconhece e valoriza as raízes amazônica, ocorreu no Complexo Booth Line, no Centro de Manaus.

Por fim, além do impacto cultural, a moda sustentável do Amazonas também promove geração de renda para comunidades tradicionais, incentivando o consumo consciente e fortalecendo a economia local.

Sioduhi: futurismo indígena Amazônico

Sioduhi, o criador da marca, nasceu em Mariwá, comunidade no Médio Uaupés. Ele cresceu em Iauaretê, um distrito de São Gabriel da Cachoeira, a 850 quilômetros de Manaus, junto à fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela. 

A primeira coleção do artista foi lançada em 2020, o “Dabucurí”, que remete uma cerimônia milenar que ocorre na região do Alto Rio Negro. Em seguida, lançou mais três coleções no portfólio “ManioQueen”; “Pamɨri 23: Cápsula da Resistência e Transformação”; e a “Amõ Numiã: Ontem, Hoje e Amanhã”.

Antes o estilista morava em São Paulo, mas desde o fim de 2022 Sioduhi está em Manaus. As peças não são inspiradas não só nas origens dele, mas em outras comunidades, como povos ribeirinhos, quilombolas e extrativistas. 

Atualmente, com uma visão criativa que une inovação e preservação cultural, o Sioduhi Studio protagoniza a temporada de desfiles com a coleção “Kahtiridá: Fio da Vida”, explorando temas como cura e resistência diante das adversidades do mundo moderno.

Única marca amazonense na Casa dos Criadores, o estúdio reforça o potencial criativo e empresarial da região Norte, levando a moda e a cultura amazônica para novos públicos.

A coleção simboliza a descentralização da moda brasileira, destacando técnicas ancestrais como o tingimento natural ManioColor (extraído da casca de mandioca) e o uso de fibras de tucum, aliados a experimentações com tecidos inovadores, como algodão emborrachado, e bordados elaborados.

O Sioduhi Studio foi reconhecido com o prêmio “Personalidade Fashion Futures 2023” pelo Instituto C&A. Além disso, o estilista é conselheiro do Amazon Poranga Fashion, projeto que fortalece a moda autoral da região. O objetivo do artista é mostrar a riqueza cultural amazônica com a moda consciente como protagonista.