Deslizamentos de terra no Amazonas: por que tragédias se repetem todos os anos? 6f5545
No inverno amazônico, comunidades vivem sob o risco constante de ver suas casas desmoronarem, enquanto a culpa é sempre atribuída à natureza. Mas será que a chuva é realmente a vilã dessa história?
Os deslizamentos de terra são fenômenos comuns durante o período de chuvas no Amazonas. No inverno amazônico, comunidades vivem sob o risco constante de ver suas casas desmoronarem, enquanto a culpa é sempre atribuída à natureza. Mas será que a chuva é realmente a vilã dessa história?
Em Manaus, as zonas Norte e Leste são as mais vulneráveis, de acordo com levantamentos da Defesa Civil Municipal.
Áreas de risco de inundação e deslizamentos em Manaus – Foto: Defesa Civil Municipal
A expansão desordenada da urbanização em locais de risco, como lugares propensos para deslizamentos de terra, é um dos principais fatores que agravam o problema.
Manaus está entre uma das cidades com a maior expansão de áreas urbanizadas em condições inadequadas, aumentando a exposição da população a desastres naturais.
Por que as pessoas moram em áreas de risco? 434d55
Para entender as razões que levam as pessoas a viverem em locais propensos a deslizamentos, especialistas destacam a falta de políticas públicas eficientes, a desigualdade social e a carência de opções de moradia segura e ível.
Por conta disso, muitas famílias, sem alternativas, ocupam áreas de encostas e margens de rios, onde o risco de deslizamentos é maior.
O geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Fernando Monteiro, explica que a questão envolve uma dimensão política e histórica.
Habitantes em áreas de risco estão sujeitos a danos humanos e materiais – Foto: Paulo Hebmuller/Arquivo Jornal da USP
“Comumente, escutamos especialistas, a grande mídia e políticos naturalizando problemas de cunho social e político. Quando ocorre um deslizamento, a culpa é da chuva, do terreno que não era habitável – mesmo que a área já estivesse mapeada pela prefeitura como de risco. Isso é clássico em Manaus. A responsabilidade é sempre atribuída ao fenômeno natural, o que é um grande erro e uma substituição de responsabilidade”, ressalta.
Urbanização na capital 3m5w5a
Monteiro destaca que o processo de urbanização de Manaus foi marcado por violência e irregularidades, especialmente nas áreas periféricas.
“Manaus foi ocupada de forma totalmente irregular, e não é à toa que a cidade figura entre as mais favelizadas do país. Quando falamos de pessoas em vulnerabilidade socioeconômica, com moradias em áreas de risco, precisamos olhar para a história da cidade. O processo de urbanização em Manaus é violento, sobretudo nas periferias”, explica.
Urbanização em Manaus – Foto: João Dejacy
Além disso, o professor reforça que a ocupação de áreas de risco está diretamente ligada à falta de políticas públicas e à especulação imobiliária.
“Manaus a por uma crescente comercialização dos seus espaços, expulsando as populações mais carentes para áreas suscetíveis a tragédias. As políticas públicas são escassas e, muitas vezes, usadas como moeda de troca para votos, em um neopopulismo dos gestores atuais. A questão é política, não natural”, conclui.
Enquanto isso, milhares de famílias continuam vivendo em áreas de risco, expostas a deslizamentos e outros desastres, especialmente durante o período de chuvas intensas na região.
Relembre casos recentes de deslizamentos de terra no Amazonas 73251k
Conforme levantamentos, em 2023, mais de 600 áreas de risco mapeadas estavam concentradas na capital, mas o problema se estende por todo o estado do Amazonas.
Casos de deslizamentos de terra no Amazonas têm sido frequentes, especialmente durante o período de chuvas intensas, causando danos materiais e, em situações mais graves, vítimas fatais.
Conforme o geógrafo Fernando Monteiro, esses eventos são resultados da combinação de fatores naturais e humanos, que aumentam a vulnerabilidade de áreas de encosta e margens de rios.
“Os deslizamentos são influenciados por fatores tanto sociais quanto naturais. A elevada quantidade de chuva nesse período impacta o solo de forma mais direta, resultando na redução sua coesão e acaba favorecendo os deslizamentos, principalmente em terrenos com solos frágeis”, explica.
Novo deslizamento em Manacapuru – Foto: TV Norte Amazonas
O especialista destaca ainda que, em áreas ribeirinhas, a erosão fluvial contribui para a instabilidade do solo. Isso acontece porque o processo de deslizamento tem uma característica mais natural.
Já em cidades como Manaus, o problema está ligado à precariedade urbana, como a ocupação desordenada e a falta de infraestrutura adequada, como drenagem e contenção de encostas.
Prevenção e conscientização 6d3i11
Enquanto os deslizamentos de terra continuam a desafiar a região amazônica, especialistas reforçam a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a realocação de famílias para áreas seguras, além de investimentos em infraestrutura e conscientização ambiental.
As chuvas intensas típicas dessa época do ano tornam o solo ainda mais instável, aumentando o risco de tragédias. No entanto, a solução para o problema vai além da natureza.
“A saída é política. Precisamos de uma gestão que considere a dimensão social e humana da vida, e não apenas retornos eleitoreiros e oportunistas, como muitos dos nossos gestores públicos”, ressalta Fernando.
Entre as medidas urgentes apontadas estão a regularização fundiária e o reassentamento de famílias vulneráveis que vivem em áreas de risco espalhadas por Manaus. Além disso, investir em infraestrutura adequada, como sistemas de drenagem eficientes e barreiras de contenção, e implementar uma gestão de risco eficaz, com mapeamento e fiscalização rigorosa dessas áreas.
“O problema não é apenas natural, é político. Enquanto não houver uma gestão comprometida com a vida da população, continuaremos a ver tragédias que poderiam ser evitadas”, destaca o especialista.
Principais fatores naturais e mudanças climáticas 265i5o
O geógrafo Fernando Monteiro explica que o desmatamento e as mudanças climáticas impactam a frequência e a intensidade dos deslizamentos na Amazônia. Conforme apontado por ele, esses fatores estão diretamente relacionados ao aumento de eventos extremos.
“As mudanças climáticas têm um efeito direto, por exemplo, na quantidade de chuva. Elas alteram os padrões climáticos, resultando em períodos de chuvas mais fortes e concentradas, que saturam o solo rapidamente e aumentam o risco de deslizamentos de terra no Amazonas”, explicou.
Outro fator está relacionado ao aumento das temperaturas globais que impacta diretamente o ciclo hidrológico, tornando as cheias mais imprevisíveis e intensificando a erosão das margens dos rios.
“O desmatamento agrava ainda mais a situação, pois remove a cobertura vegetal que protege o solo e ajuda a absorver a água das chuvas. Sem essa proteção, o solo fica mais exposto à erosão e aos deslizamentos”, complementa.
Leia também
1f3e62
Deslizamentos em Manaus: saiba como identificar riscos e se proteger
5m3v6c